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sexta-feira, 10 de julho de 2009
As histórias vieram somente depois de o terror permitir a imaginação. O terror nasceu com o Homem e é provavelmente raro entre outros seres vivos. O terror nasceu com terror dele próprio e alastrou quando encontrou a vulnerabilidade global e se deu conta da sua rigorosidade distributiva. O terror salpica o dia-a-dia do homem quando este se atrapalha com os atacadores dos sapatos. O terror ata hoje os dois pés de cada um e permite que ele ande na horizontal, circularmente estático, e profundamente preso.

O terror funcionou como uma heterotopia berço de muitas novas criações. O terror estendeu os braços e deu à luz pequenas facções de contra-terrores disfarçadas com nomes menos aterrorizantes. A solução encontrada pelo homem para se manter em grupo coeso e para lidar consigo próprio é através do terror e do contra-terror. Funciona como um pequeno mito de aldeia em que os graus de crença variam, existindo aqueles que acreditam sem questionar, aqueles que questionam sem acreditar e aqueles que questionam e voltam a acreditar tornando real aquilo que é pensado.

Se a estratégia do terror pode ser vista como infantil, ela torna-se grave quando há uma instrumentalização destas pequenas criações. É mais fácil ver o outro objectivado mas o outro não é só inocente ou só culpado nem as coisas estão colocadas num eixo que divide o mal do bem. Não há um eixo mas vários fragmentos fundidos num só terror maior que o Homem e todos se interligam neste que é o terror de se perder ficando por sua conta. Nesta ânsia inesgotável e ambígua entre a repulsa pela solidão e a perpétua paixão pela mesma, a instrumentalização destas histórias leva à completa aniquilação de cada sujeito e dos grupos em que se inserem.

You should know the rules by now, dizem em Guantanamo. Enquanto tentam encontrar um pedaço de sombra na cela entre os escorpiões, estes prisioneiros, inocentes ou não, são a pintura de um ódio-balancé em que um peso se intensifica com a intensificação do que o opõe. Enquanto cientes dos perigos, o jogo psicológico aparece para justificar as acções perante eles próprios e perante os próprios prisioneiros. Prisioneiros sem provas, sem palavras potencialmente eficazes, são imperceptivelmente obrigados a aceitar a suposta ajuda do inimigo, ressuscitando os jardins zoológicos humanos da era vitoriana, cela que os fará mais fortes ou mais fracos perante si e perante o inimigo. E diga-se, os presos não são todos Nelson Mandelanos, e na maior parte dos casos estas situações alimentam e cultivam o extremo que pretendem combater.

Acusados de pouca cooperação com e por aqueles que cooperam para o crescer de um ódio maior, criam tanto uns como outros regras que excluem e incluem, interpretando a história do mito e construindo para além dela aquilo de que precisam para se manterem coesos. “Seita”ndo o mundo, reúnem aqueles que seguem e aqueles que lideram num só falso homogéneo iludindo tanto o homogéneo como tudo o que está para além das suas fronteiras. Nesta reciprocidade hegeliana em que há uma simultaneidade de dependência para a auto-afirmação, afirmação possível na medida em que exista a contradição do outro, cada parte se define dependentemente da existência do outro e das suas diferenças. Obama diz querer lutar contra o terrorismo e diz querer fechar Guantanamo. Não é uma contradição. Aparentemente expressões de dois grupos diferentes, esses dois grupos fundem-se num só quando confrontados perante o derradeiro terror do isolamento. Em pé de igualdade perante a grandiosidade do mundo, ambos se revelam indefesos. Ansiosos, vacilam entre o abatimento do outro ou a procura da união para aguentar a força do tempo e do espaço.

Entendendo que é fragmentação, embora desfragmentada e difícil demais para a entender em si, entende-se que o fragmento não é mais que cada expressão do terror maior que une os homens e desesperadamente os separa. Mas que os una. Que o terror do isolamento e que a fascinação pelo céu os faça defender os direitos humanos ao invés de os aniquilar, a eles, aos homens, e ao majestoso habitat em que gatinhamos sobre apenas dois pés.

Enviado por Mariana Guimarães ás 10:36

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